Antônio Lopes de Sá
O capital da empresa sofre influência direta do mundo que o envolve e este é um complexo que mescla diversos fatores de natureza ecológica, social, política, econômica, científica, tecnológica etc.
A intuição para os estudos dos importantes efeitos dos fatores referidos é, todavia, muito antiga e sequer se pode prever quando iniciou.
Há milhares de anos os manuais de conhecimentos, dentre os quais já se incluíam os contábeis, advertiam sobre o problema da formação dos preços da concorrência, ou seja, como deveria o comerciante comportar perante o mercado e como considerar o que gastava para vender (vários séculos antes da era cristã já circulavam na Índia manuais sobre tais temas, como o Arthasastra, de Kautylia, este um intelectual que mereceu a mesma consideração que Aristóteles, no oriente).
A busca de modelos de custos de acordo com o ocorrido no mercado, em bases de uma escrita contábil de maior evolução, também foi motivo de obra escrita no período medieval (um livro manuscrito sobre custos por partidas dobradas já existia em Florença, na Itália, no século XV, referindo-se a um Tratado sobre a produção de seda e lã).
Em 1655 Bastiano Venturi, na Itália, escrevendo sobre assuntos contábeis recomendou critérios relativos às atenções necessárias com a formação dos preços.
De há muito, pois, já se estava atento para o que hoje é denominado “custo de conveniência”, um valor inspirado em pesquisas sobre o que faz a concorrência.
Os esforços que os competidores efetivam para conseguir formar seus preços são determinantes para a formação dos lucros e inspiram modelos específicos que precisam ser construídos nesse sentido.
Não faz muito tempo, pouco mais de meio século e a “produtividade” era o fator principal na atenção das indústrias e das grandes casas de comércio, mas, tal fator, embora não abandonado, cedeu lugar a outras óticas inspiradas nas pressões de mercados aonde a competitividade surge como algo determinante.
Os esforços na busca de modelos de custos em padrões exclusivos de uma eficiência, mais de rigor técnico de produção do que de técnica de mercado, cederam lugar a outras tecnologias.
A “globalização” colocou o empresariado em posição de agressividade, na busca de alternativas para não fosse alijado perante concorrências cada vez mais acirradas.
Exemplo exuberante é o que está a acontecer em nossos dias com a invasão de produtos a preços baixos, provenientes da China aonde a mão de obra acha-se aviltada com relação a salários.
Em auxílio dessa questão, a Contabilidade teve que adaptar-se às mudanças, ou seja, voltar a pensar no que em 1655, no que há milênios atrás já era recomendado, ou seja, a busca do “preço competente para concorrer”, ou seja, o “conveniente” em um mercado de alta competitividade.
Mesmo outros modelos sendo de construções hipotéticas, racionais, sistematizadas, adequadas para estabelecer diretrizes, o caso do denominado “custo de conveniência” terminou por impor-se.
Sobre tal imposição veio em socorro a doutrina científica do Neopatrimonialismo contábil, pregando a necessidade de uma visão holística, ou seja, a que considera de forma global todos os agentes que influem sobre o capital.
A pesquisa de mercado passou a ser relevante, associada a uma de alternativas, competente para as bases de um novo modelo.
O custo apenas histórico, mesmo o teórico em base só de produtividade, passou a não mais satisfazer.
A expressiva transformação dos mercados exerce, sem dúvida, forte pressão sobre o desempenho dos capitais e as doutrinas e técnicas da Contabilidade obrigatoriamente devem considerá-las.
O preço para a concorrência não é apenas um preço formado ao sabor de um enclausurado tratamento, invariável, mas, deve observar e respeitar o que considera o ambiente externo, muito valendo a criatividade e a motivação no regime competitivo.
Não se trata apenas, no caso, de uma aparente ou formal posição de preços, mas de uma pressão que tem direta influência no comportamento interno das empresas.
No caso não é questão de ajuste, nem de embuste, mas de realidade defluente de pressão ciclópica.
Um paradoxo quantitativo ocorre na globalização, deveras vigoroso nesse particular, ou seja, exige-se o preço menor, com uma qualidade maior dos produtos.
Há uma razão inversa proporcional no lema da competição contemporânea.
A Contabilidade moderna, mas de filosofia centenária, está sendo chamada a reformular modelos e nem todos os apresentados podem ser aceitos como generalidade absoluta.
Como cada empresa tem suas peculiaridades, um próprio mercado, também é exigível um comportamento compatível com o da concorrência.
A generalidade da teoria é útil, todavia, como ela mesma sugere, necessário se faz o estudo específico.
O conceituado como “custo de conveniência”, esse que melhor se adapta a cada empresa, em cada espaço e tempo de competição, é, de fato, o que no estudo moderno da Contabilidade está facilitando às empresas a obtenção de melhores lucros, garantindo prosperidade, nessa corrida cada dia mais veloz de transformações e de mudanças.Importante é ter sempre em mente, entretanto, que não basta apenas mudar, sendo necessário que isto se faça de forma competente, com apoio científico, pois, este que permanentemente está comprometido com a verdade.
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