Os bancos deverão amortecer o impacto de possíveis novas perdas de crédito por meio de uma regra contábil que permite registrar ganhos excepcionais quando sua situação financeira deteriora.
O método, que permitiu a bancos da Europa e dos Estados Unidos agregar mais US$ 8 bilhões em lucros não realizados, enfrenta oposição cada vez maior de investidores, analistas e agências avaliadoras de risco de crédito.
Pela regra, em vigor desde fevereiro de 2007, após pressões de bancos por sua criação, as instituições financeiras podem usar a contabilidade de "marcação a mercado" de suas próprias dívidas. Como resultado, se o preço de seus bônus e notas cai, os bancos podem contabilizar ganho igual à diferença entre o valor original dos títulos de dívida e seu valor de mercado.
Nos últimos meses, a regra ajudou bancos como Lehman Brothers, Citigroup, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Merrill Lynch a elevar os ganhos.
Analistas prevêem que Merrill Lynch e Citigroup, com a divulgação dos resultados do segundo trimestre marcada para a próxima semana, compensarão com esses ganhos parte das baixas contábeis bilionárias previstas para seus ativos. O impacto da regra contábil poderia ser atenuada pela breve alta nos mercados de títulos de dívidas em abril.
Críticos, como David Einhorn, o gestor de fundo de hedge que vinha vendendo a descoberto ações do Lehman Brothers, argumentam que a regra permite aos bancos registrar ganhos contábeis quando o sentimento do mercado em relação às instituições piora.
O vice-presidente sênior da Moodyd's, Mark LaMonte, afirmou que a agência avaliadora aconselhou investidores a desconsiderar esses ganhos em suas análises. "Não somos grandes fãs da opção do valor justo, quando é aplicada às próprias dívidas da empresa porque os resultados são contraproducentes. Resulta em balanços de qualidade muito baixa".
Especialistas em governança corporativa dizem que os investidores encontram para descobrir esses lucros escriturais, que não são realizados de fato. Os bancos os revelam de formas diferentes, às vezes em notas de rodapé, às vezes em comunicados à imprensa.
"Os investidores não deveriam ter que mergulhar nos documentos reguladores para descobrir esses ganhos", afirmou Lynn Turner, ex-chefe da área contábil da Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores imobiliários dos EUA).
Fontes de bancos ressaltaram que o tratamento contábil pode afetar os resultados nas duas pontas e que as instituições poderiam ter um prejuízo escritural caso o valor de seus títulos de dívidas suba ou as margens de crédito fiquem mais apertadas.
Destacam também que os ganhos com aumento na margem de crédito presicam ser deduzidos do capital próprio pelo critério conhecido como "Tier One" em inglês, indicador de sua força financeira.
Em documento enviado a reguladores nesta semana, o Goldman Sachs revelou que a alta dos títulos em abril trouxe prejuízo não realizado de US$ 375 milhões, sem contar as operações de cobertura para proteger-se contra perdas, no trimestre encerrado em maio.
Holly Barker, gestora de projetos do Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Fasb), afirmou que as empresas optando por usar o valor justo para suas dívidas precisam quantificar os motivos pelos quais seu valor de crédito está em baixa.
Valor Econômico, 10/07/2008 , conforme disponibilizado no site NETLEGIS (grifos deste Blog)
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