sábado, 26 de novembro de 2011

O CONTADOR FINGIDOR

por Marcelo Henrique da Silva
Novembro/2011

O poeta é um fingidor, disse o poeta Fernando Pessoa.

O contador é um fingidor, como o poeta, digo; Eu, Contador. Finge completamente.

Finge a razão, e a sua falta; finge a padronização e a internacionalização; finge a folha, a escrita, o contrato; finge o tributário e o trabalhista. Finge completamente.

Santifica o costume, as crenças, o sistema dogmático... Hábito!

Vilém Flusser define hábito como a camada de algodão que encobre os fenômenos e ameniza as rebarbas. O natural mente, ainda, quando se transforma em hábito.

O hábito encobre o fingimento; nem sabe que esta fingindo. O natural mente.
Finge sem saber que finge; naturalmente.

Na alegoria da caverna, de Platão, a prática, o costume e a tradição seduzem os prisioneiros; permanecem naquela situação pelo hábito. Não conhecem a liberdade; seduzidos pelo hábito. Fingem sem saber; naturalmente.

A alienação é uma das fontes de prazer; evita-se a dúvida; segue-se...

Rubem Alves disse que o alienado é uma pessoa que está fora de si, caminha num mundo que não é seu; é do outro. Segue...

Sedução; hábito; fingimento.

Finge sem saber que finge.

Finge fiscal, folha, tributário, societário; finge contabilidade... Natural mente.

Finge sem saber que finge. Eu, contador.

E Zaratrusta assim falou com o povo: não me compreendem? Terei que principiar por lhes destruir os ouvidos para que aprendam a ouvir com os olhos?

Sem respostas, sigo o meu caminho, por linhas tortas, como descreveu o Manoel de Barros.

Não me compreendem?...





Marcelo Henrique da Silva, é contador em Londrina.