sábado, 5 de julho de 2008

Antecedentes nas teorias contábeis e administrativas

Antônio Lopes de Sá

A falta de cultura, mesmo de escritores que adquirem alguma influência ou a má fé no campo intelectual tem levado a deformações sobre a verdadeira origem e evolução do conhecimento.

Como a mentira divulgada intensamente acaba por parecer verdade aos menos avisados, interessante se faz contestar algumas referências falaciosas recentemente veiculadas sobre o nascimento da Administração e da Contabilidade como disciplinas científicas, assim como sobre a simbiose entre estas ocorrida.

A utilização dos informes contábeis e até mesmo a explicação e interpretação dos mesmos em bases subjetivas para os gestores de empreendimentos é tão antiga quanto a própria civilização[1]

Inúmeras são as provas arqueológicas de registros patrimoniais e livros didáticos escritos há mais de dois mil anos evidenciando matéria conceitual sobre fatos relativos à riqueza e a forma de conduzi-la para uma boa administração.

São famosas as cartas de Plínio, o moço (Caio Plínio Cecílio Segundo), a Trajano (setembro de 53 – agosto de 117 da era cristã), imperador da Roma antiga, comentando sobre “como” administrar tendo por base elementos egressos dos registros contábeis.

Embora referências diversas sobre a gestão tenham ocorrido em obras da antiguidade e na Idade Média só no século XIX ilustres autores construíram bases com teor científico para a Contabilidade e a Administração.

A teorização em nível superior, portanto, só iniciou de fato há cerca de pouco mais de um século e meio e quando Taylor e Fayol escreveram as obras que hoje são referidas como pioneiras na realidade sobre o tema já existiam várias outras conquistas intelectuais feitas pelos italianos: Francesco Villa (1840), Giuseppe Cerboni, Giovanni Rossi, Fábio Besta, Carlo Ghidiglia e outros.

Na opinião de ilustres estudiosos como Giannessi, todavia, o maior destaque cabe, dentre todos, a Fábio Besta (em edição de 1891), se analisada a essência da obra admistrativa e contábil produzida pelo mesmo [2].

Os ensaios primeiros, todavia, sobre a matéria são provenientes dos denominados “cameralistas”, dos séculos XVI até o XVIII; mesmo não apresentando doutrinas, ofereceram os referidos contribuições a uma estrutura científica em germinação.

A imperiosa necessidade de gerir as empresas com a proteção de informações de melhor qualidade, procurando conhecer a “essência” sobre os fatos patrimoniais ocorridos precipitou-se com a “revolução industrial” ocorrida na segunda metade do século XVIII, esta que deu impulso ao aumento e a concentração da riqueza.

O ciclo do ouro no Brasil enriqueceu os ingleses, posto que estes fizeram sustentar a expansão econômica a custa de drenar as riquezas que iam ter a Portugal, todavia, as preocupações com a intelectualidade nas áreas contábeis e administrativas foram de natureza acentuadamente latinas.

É equivocado, pois, admitir que a ciência da Administração tivesse nascido no século XX e muito mais absurda ainda a imaginação que a simbiose entre esta e a Contabilidade tivesse sido um acontecimento recente.

O que poderemos creditar à atualidade, depois de considerados os esforços antecedentes das teorias contábeis e administrativas é a sofisticação permitida pelos meios eletrônicos de dados, apoiada com a inequívoca evolução doutrinária científica, como a do Neopatrimonialismo Contábil e a da “Contabilidade para a Gestão" [3], também referida como “Contabilidade Gerencial”.

A cultura é fruto de sedimentações e é praticar injustiça atribuir a autores de nossa época a “invenção” de uma Administração Científica; o que a estes podemos creditar, sim, é o desenvolvimento do que foi herdado no campo intelectual.



[1] Ver sobre a matéria a minha obra Evolução da Contabilidade, edição Thomson-IOB ou História Geral e das Doutrinas Contábeis, edição Atlas
[2] GIANESSI, Egidio – I precursori, La. Edição Colombo Cursi, Pisa, 1965, página 147
[3] Merecendo referência, como exemplo significativo a obra de RODRIGUEZ, Carlos Mallo e outros – Contabilidad de gestión, edição Ariel, Barcelona, 1994

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