por Inaldo da Paixão Santos Araújo
Se é verdade que a Contabilidade possui alma feminina, podemos afirmar, tristemente, que, no Brasil, ela está viúva. Faleceu no dia 08 de junho de 2010, aos 83 anos, o Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá, ícone mundial da Contabilidade.
O Contador A. Lopes de Sá, Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, em 1964 (ano em que eu nasci), era vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis, membro da Academia Brasileira de Ciências Econômicas e da Real Academia de las Ciencias Económicas y Financieras na Espanha, além de ser o único ibero-americano na Academie des Sciences Commerciales da França.
Em sua bela jornada, integralmente dedicada ao mundo contábil, o Professor deu a público 157 livros no Brasil, Espanha e Argentina, e editou mais de 11 mil artigos em jornais e revistas do Brasil, Argentina, Colômbia, Estados Unidos, Itália, Espanha, Portugal, entre outros.
Muito já se disse do cientista e filósofo contábil A. Lopes de Sá. Contudo, sua maior virtude, em minha opinião, foi ter se apaixonado pela Contabilidade e com ela ter mantido uma relação de fidelidade, defendendo os princípios científicos, independentemente da onda avassaladora do capital e dos tributos, que, por vezes, maculam os seus mandamentos basilares.
Em muitas oportunidades, o Prof. A. Lopes de Sá figurou como uma “rês desgarrada nessa multidão boiada”, mas nunca deixou de combater o seu bom combate, assim como nunca perdeu a sua fé em uma Contabilidade voltada à pureza patrimonial. Uma verdadeira Contabilidade viva.
Dizem que cada um é responsável por sua história. O eterno Contador A. Lopes de Sá foi responsável pela dele e também pela história da Contabilidade brasileira. Ele não foi o maior contador do Brasil. Ele sempre será, pois sua imensa obra e o seu pensar neopatrimonialista não perecerão jamais. Sempre estarão vivos entre nós.
Na condição de aluno e eterno aprendiz do Professor – uma verdadeira personificação da Contabilidade –, aproveito para, mais uma vez, agora de público, agradecer, pois se hoje sou auditor ele teve sua parcela de “culpa”.
Explico.
Aos 18 anos, na Universidade Católica do Salvador (UCSal), após ver um cartaz de uma multinacional de auditoria com o slogan “Estamos de olho em você”, sonhei que poderia ser auditor. Queria ser membro de uma das big eight. Precisava trabalhar.
Na entrevista, nos corredores da Católica, fui reprovado. Motivo: “não tinha porte nem me trajava como auditor”.
Conversando com o amigo e colega de sala Luciano Figueiredo, auditor do antigo Banco do Estado da Bahia (BANEB), foi-me permitido participar do psicoteste.
Das centenas de candidatos, fiquei entre os dez. Entre os dois escolhidos na entrevista com o sócio, figurei entre eles.
Confesso um pecado-segredo. Como ainda não tinha cursado a disciplina auditoria, na Universidade, não fazia a mínima ideia do que ela representava, do seu objetivo, da sua importância.
Mas, como sabia que a empresa era de auditoria, praticamente decorei o primeiro capítulo do livro “Auditoria”, do Professor A. Lopes de Sá, para a entrevista.
A primeira pergunta do sócio: “Por que você quer trabalhar em uma empresa de auditoria?” Minha resposta: Porque preciso.
A segunda pergunta: “O que é auditoria para você?” Sorri...
Obrigado, Professor. Por ter me mostrado que a Contabilidade mais do que arte, técnica ou ciência, é vida. Obrigado por tudo e sempre! Descanse com os números e em paz!
O autor: Mestre em Contabilidade. Professor universitário. Graduado em Ciências Contábeis e pós-graduado em auditoria governamental, metodologia e didática para o ensino superior e administração pública. Professor universitário e de cursos de pós-graduação. Tem ministrado cursos de contabilidade e auditoria no Brasil e no exterior.É autor de artigos para revistas técnicas e dos livros Introdução à contabilidade e Introdução à auditoria, Introdução à Auditoria Operacional além de co-autor, com Daniel Gomes Arruda, de Introdução à contabilidade governamental. Auditor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia.
Fonte: Jornal A TARDE de 13.06.2010 - via Análise de Balanço
Nota: Inaldo Araújo foi nosso contemporâneo de auditoria na citada "big eight".
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